Alternativas sustentáveis para o descarte de resíduos
da construção Civil
A construção, indicam estimativas,
responde por pelo menos metade do entulho gerado nas cidades brasileiras. E é
de responsabilidade do gerador, independe do porte, cuidar para que os resíduos
oriundos de demolições, renovações ou obras tenham destinação apropriada.
A reciclagem é uma alternativa para
diminuir o impacto ambiental desses resíduos. A prática é vantajosa em vários
aspectos: reduz as chances de deposição em locais clandestinos e contribui para
aliviar a pressão sobre aterros de inertes, cada vez mais saturados. Para o
gerador, representa custos menores com a destinação, além da possibilidade de
reaproveitamento de materiais antes descartados e do emprego, na própria obra,
de agregados reciclados, em substituição a novas matérias-primas extraídas do
meio ambiente.
A opção pela reciclagem é atualmente
facilitada pela existência de um mercado, em crescimento, com empresas de
captação, manejo e valorização dos resultados da construção. E também por novos
conceitos que, aos poucos, chegam aos canteiros. A Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), observa o urbanista Tarcísio de Paula Pinto, da
I&T Gestão de Resíduos, inspira uma visão na qual a demolição, por exemplo,
passa de geradora de entulho a grande fonte de matéria-prima secundária.
Mesmo antes da sanção
em 2010 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a construção civil já
contava com regulamentação sobre o tema sob a forma de resoluções do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (Conama). A existência de uma legislação nacional,
entretanto, coloca pressão adicional sobre o setor.
Classificação
Embora os benefícios da reciclagem
sejam abrangentes, a prática ainda é pouco empregada nos canteiros pelo país.
De acordo com Levi Torres, coordenador da Associação Brasileira para Reciclagem
de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), o volume de produção de
agregados reciclados é pequeno, dado o tamanho do mercado de construção civil
brasileiro. Mensalmente, são beneficiados pelas usinas de reciclagem 380 mil
metros cúbicos de produtos como rachão, pedrisco, brita, bica corrida e areia.
Com características muito semelhantes
aos agregados naturais, esses produtos têm como matéria-prima resíduos classe A
– categorização proposta pela resolução 307/2002 do Conama. Ou seja, são
confeccionados a partir do beneficiamento de concretos, cerâmicas, pedras e
argamassas. No processo construtivo, informa Levi Torres, tais resíduos chegam
a representar metade da geração. Já em demolições, ultrapassam a casa dos 80%.
Também são passíveis de reciclagem e
reaproveitamento de resíduos classe B, tais como vidros, madeiras, metais,
papelões e plásticos. Mais recentemente, o gesso foi incluído no grupo. O
material pode ser usado como ingrediente na produção de cimento ou transformado
em gesso agrícola.
Triagem
Uma etapa fundamental quando se fala
em gestão de resíduos da construção civil é a triagem. Para executá-la de forma
eficiente, o canteiro deve contar com áreas destinadas à separação e acondicionamento
dos diferentes materiais. E os trabalhadores devem ser treinados para colaborar
no processo. Segundo as recomendações da resolução 307 do Conama, a segregação
deve ser feita preferencialmente nos locais de origem dos resíduos, logo após a
geração, e transportados internamente para posterior acondicionamento.
Os cuidados visam assegurar a
qualidade do resíduo que será enviado para reciclagem. “Um dos grandes desafios
dos gestores de obras é garantir uma triagem que respeite as condições de mercado
para valoração. O reciclador precisa operar de maneira ótima, e não consegue
fazer isso recebendo materiais misturados”, pontua Élcio Carelli, diretor da
consultoria Obra Limpa.
Esse processo de ordenamento das
atividades no canteiro motivada pela reciclagem traz ganhos para o
empreendedor, destaca Tarcísio de Paula. “A atenção gerencial aos resíduos no
canteiro faz com que surja à vista material antes afogado em pilhas de entulho
e que entra novamente no fluxo de produção, eliminando algo de compra.” Traz,
ainda, uma percepção sobre a necessidade de diminuir a geração e de aperfeiçoar
métodos construtivos.
Agregado reciclado
De acordo com Levi Torres, da
Abrecon, diferentes usinas produzem agregados diversos, mas, no geral, o
processo de transformação envolve: chegada do caminhão com entulho ao pátio de
triagem, checagem para saber se há resíduos de outras classes, britagem e
peneiramento.
A reciclagem dos resíduos pode ser também realizada no próprio canteiro,
por meio do emprego de equipamentos móveis. A gestão in loco é
vantajosa para empreendimentos de maior proporção e, por isso, com maior volume
de produção de resíduos, além de espaço suficiente para receber um britador. Os
agregados processados no canteiro são reaproveitados na obra, geralmente como
revestimento ou argamassa de assentamento. A redução dos custos envolvidos no
descarte do entulho e com a compra de material natural justificam a adoção da
prática.
Logística reversa
Um dos instrumentos da Política
Nacional de Resíduos Sólidos é a chamada logística reversa. Élcio Careli
observa que o conceito não significa necessariamente o retorno de resíduo ao
fabricante. A volta à cadeia produtiva, após processos de transformação dos
resultados da construção em produtos de valor para o uso do próprio gerador,
também é uma forma trabalhar o conceito na prática. E as atividades aí
envolvidas – entre elas, a reciclagem – são parte de um circuito de logística
reversa.
Nesse sentido, sugere o coordenador
da Abrecon, Levi Torres, o empreendedor pode aproveitar o transporte do resíduo
para a usina e solicitar ao caçambeiro que retorne à obra com agregado
reciclado. Por um lado, o gerador estará garantindo que a destinação foi
adequada e, por outro, adquirindo um material útil na obra e de valor inferior
ao agregado natural. “Ele pode aproveitar o reciclado na montagem do canteiro,
em pequenas estruturas, muros, valas, no estande de vendas, gastando muito
menos.” Pôr a ideia em prática exige planejamento e o conhecimento prévio dos
resíduos recepcionados pelas usinas de reciclagem mais próximas e dos agregados
que são ofertados por estas.
Transporte
O transporte externo é elo frágil da
cadeia de transformação dos resíduos da construção. No caminho entre a fonte
geradora e o destinatário há risco de desvio do material, que pode parar em
locais irregulares. Para que isso não ocorra, algumas providências são
recomendadas:
·
A primeira é checar se há informações no município sobre transportadores
cadastrados. Uma vez contratado o serviço, é preciso exigir do caçambeiro o
retorno do documento de Controle de Transporte de Resíduo (CTR) devidamente
carimbado e assinando pelo destinatário, comprovando que material foi entregue
na usina de reciclagem (ou em áreas licenciadas para receber entulho da
construção, se esta for a opção).
·
Para maiores garantias, indica Élcio Careli, é possível atrelar o
pagamento do transportador à entrega do CTR ou de um ticket de balança da
unidade recicladora. Ou ainda definir previamente o destino dos rejeitos,
ficando sobre o caçambeiro apenas a responsabilidade pelo frete.
Colaboraram para esta matéria
Levi Torres – Formado em
Administração em Marketing, é coordenador da Associação Brasileira para
Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon). Na entidade,
é responsável pelos grupos de reenquadramento tributário, integração e
legislação. Atuou como consultor na área de resíduos de óleo
comestível/biodiesel e papéis.
Élcio Careli – Economista,
mestre em Tecnologia Ambiental pelo Centro Paula Souza. É diretor da
consultoria Obra Limpa e professor dos cursos sobre construção sustentável do
GBC Brasil.
Tarcísio de Paula Pinto – Urbanista, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo
(USP), é diretor-técnico da I&T Gestão de Resíduos. Foi consultor do
Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Cidades, Caixa, BNDES e BID
Fonte de pesquisa : http://www.obralimpa.com.br/index.php/reciclagem-de-residuos-e-alternativa-sustentavel-para-destinacao-de-entulhos/
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